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terça-feira, 8 de março de 2011

Contos de um internato: Conto 1


Nota: Esses contos são totalmente diferentes dos postados anteriormente.

1º de fevereiro.

O dia em que as aulas desse lugar repugnante começaram. Não me levem a mal por tal palavreado, no entanto, viver em um lugar indesejado por, digamos, muito tempo, não é a situação que deixa alguém amigável, muito menos gentil ou feliz.
              Uma das poucas coisas que eu tolerava era o primeiro dia de aula. Mesmo que o silêncio das férias fosse tentador, nada se comparava ao fato de ver os novos infelizes que ingressaram na escola, pelo menos, eles tinham a doce mas amarga ilusão que estudariam.
               A presença de veteranos no internato era algo muito raro e escasso. Muitos estudantes não conseguiam passar de ano e, acreditem quando afirmo que o menor problema deles eram as notas.E os felizardos que conseguiam passar nunca mais colocavam seus pés nos terrenos desse lugar, com exceção dos fidalgos cujos pais ignoravam ou rejeitavam, sendo assim, obrigados a voltarem para essa espelunca.
            Os ônibus, lotados de pestes, já entravam enfileirados pelos grandes portões de ferro do internato e, em pouco tempo, o pátio estava cheio de pequenos indesejados.
             Os sentimentos de cada um estavam visíveis em seus olhos juvenis, que demonstravam claramente seus interesses, objetivos, ou puros mimos detestáveis.
            Afastado dos outros, recostado tranquilamente em uma decrépita árvore, cuja madeira se deteriorava com ajuda de cupins altamente eficientes, estava um garoto cujos pensamentos atraíram minha atenção. Ele basicamente era um idiota, ou melhor, era dono de características de um sedutor idiota. Não só psicológicas, mas físicas também. Seus cabelos pretos, que pareciam muito grudentos no caso, e seus olhos de mesma cor, ombros largos e braços relativamente fortes, chamavam a atenção das tolas meninas, apenas fúteis, claro. O que ajudava mais em minha teoria de: “um sedutor idiota cujo cérebro não tinha mais que um neurônio funcionando” Aliás, era impossível não perceber que apenas uma coisa passava por aquela mente: Sexo.
           Pobre menina aquela que acabara de sair de um dos ônibus. Cabelos loiros, olhos castanhos, pele bronzeada, porte médio e um sorriso cativante.Apenas mais uma menina tola que não demoraria a fazer parte da história desse lugar repugnante. Essa menina, Katherine, era perseguida constantemente por aqueles olhos de luxúria, que pertenciam a Paul. Sim. Esse era seu nome.  Ele observava todos os movimentos da jovem menina, mantendo um sorriso cínico e aproveitador estampado em seu rosto, cujas expressões não escondiam suas segundas intenções.
           Em minha opinião, as intenções estavam além das segundas, variando entre terceiras, quartas e assim por diante.
          O primeiro passo daquele idiota sem escrúpulos foi o mais esperado possível. A aproximação. Eu nunca poderia imaginar forma mais imbecil de chegar a alguma garota. Da forma mais inconveniente e previsível, Paul simplesmente finge esbarrar em Katherine, fazendo a mesma derrubar seus pertences. E como em toda história boba de romance, o garoto ajuda a indefesa menina.
          -Desculpe. – Paul balbuciou. Tenho que admitir, ele é um ótimo ator. – Eu não havia visto você. – Ele completou, abrindo um sorriso descarado. Tenho que acrescentar... é um belo mentiroso também.
         -Não se preocupe. – Katherine murmurou. – Você não teve culpa. – Ela completou, juntando suas coisas do chão, sendo ajudada agora por Paul que dava inicio a seu planozinho medíocre.
          O sinal da escola tocou, avisando a presença de todos os alunos em seus respectivos dormitórios. – Femininos e Masculinos. – Paul previu que aquilo atrasaria seu pequeno plano e, com certeza, ele não aguentaria muito tempo, não conseguiria suportar tanto tempo. Ele era um monstro, ou melhor, um aproveitador sem escrúpulos.
        A cada ano, novos alunos se matriculavam nesse internato, eles podem ser qualquer um, ou... Qualquer coisa. É imprescindível saber o fato do total desconhecimento desses alunos, aliás, de alunos e professores. Desde que me recordo o diretor deste lugar miserável nunca fora fã de “enrolações”. O garoto em um ato repentino e desesperado segurou o pulso de Katherine, que já se dirigia para a grande construção principal. As expressões da menina transpareciam desentendimento e desconfiança.
            -Peço desculpas novamente. – Ele murmurou desconsertado, percebendo seu ato precipitado. – Parece que não nos apresentamos. Meu nome é Paul. Paul Oliver.
            -Tudo bem... – Ela respondeu relutante com tal situação. – Eu sou Katherine. Katherine A... – Sua fala foi interrompida pelo sinal, que tocara mais uma vez, alertando os atrasados ou os surdos; ou talvez fora apenas coincidência; sorte.
            -Antes de ir... Poderíamos nos encontrar novamente? – Perguntou Paul, insistente.
           -Acho melhor não. –Katherine murmurou, friamente. – Eu tenho que ir. – Ela acrescentou, soltando-se de Paul e distanciando-se do mesmo.
           Isso não seria o suficiente para se livrar de Paul, principalmente quando este estava tão revigorado nesse novo espaço. O ódio e a maldade começavam a tomar conta daquele idiota. Suas expressões transpareciam características assustadoras, psicopatas. Olhando Katherine ir ao longe, Paul soltou uma pequena risada cujo som era o mais maligno possível.
          Pobre Katherine.
       
           Devo ressaltar, nesse momento, que durante a noite os corredores ficavam totalmente a mercê. Não havia monitores, muito menos vigias, até porque, os antigos nunca foram encontrados, e os que, por sorte, foram... Bom, não estavam muito vivos, literalmente.
          A escuridão daqueles corredores estreitos e íngremes propagava-se por todos os lados, tendo apenas riscos da luz da lua iluminando pequenos cantos. Por vários anos aqueles corredores foram testemunhas de episódios que nem eu seria capaz de narrá-los, ou até mesmo, lembrá-los. Não se ouvia nenhum ruído, apenas sons de animais e de pegadas. A quem pertenciam essas pegadas? Vocês irão descobrir, por enquanto quero mantê-los racionais.
          O dormitório feminino estava calmo, tranqüilo, sendo inundado pelas respirações compassadas das ingênuas meninas, com exceção de Katherine, que encontrava-se inquieta naquela noite. Depois de tentativas frustradas de pegar no sono, resolvera buscar um copo d’água. Ela saiu, discretamente, do seu quarto, o 202, dando passou pequenos e leves, levando consigo uma lanterna para que conseguisse enxergar naquela escuridão.
           Coisas inesperadas aconteciam com frequência nesse internato. O motivo? Eu nunca descobri, aliás, ninguém nunca descobriu. Pode parecer sem nexo e incoerente, além de bizarro, mas devo ressaltar que esses adjetivos significam apenas meros elogios, quando relacionados a esta espelunca.
           Gritos abafados eram ouvidos, aliás, acho que eu era o único que os ouvia. O ruído desesperado provinha do armário de vassouras do corredor 21. Os primeiros nomes que devem ter imaginado como as “personagens” desse episódio foram Katherine e Paul, logicamente ela como a vítima e, ele, como o agressor. Não estou contrariando, afirmando ou negando esses fatos, só lhes aviso que nada relacionado a esse lugar é compreensível.
          Qual o final da história?
          Sinto-lhes informar que durante esse pequeno episódio, eu devo ter me distraído com outro assunto, ou outra coisa; o que causou minha perda do término desse episódio. Eu realmente estou me sentindo um belo retardado com isso.

            Dia seguinte, tempo ensolarado, céu azul e limpo, temperatura amena. Um dia normal?
           Nem nos sonhos mais otimistas.
           Esse clima não era nada normal no internato. No entanto, os alunos adoravam dias assim, por serem meros ingênuos e tolos. Era visível o sorriso estampado no rosto de alguns alunos que passeavam pelo jardim aos arredores da grande construção principal, cujas paredes eram velhas e desgastadas, deviam ser do século XIX. Muitos achariam uma construção magnífica, e ficariam horas admirando tal arquitetura, mas eu apenas acho um monte de lixo, nada que uma demolição não resolvesse.
           Os alunos, que se encontravam na entrada, estavam tão dispersos em suas atividades inúteis que não perceberam a presença de um alto homem com idade avançada, cabelos grisalhos e pele enrugada que realçavam sua idade. Ele carregava dois grandes sacos pretos, enquanto suas feições eram sérias e assustadoras. Se não me engano, esse tal homem era Joseph, mais especificamente, o jardineiro do internato, mas essa era apenas uma das muitas tarefas que ele tinha de cumprir. Qual o seu sobrenome? Não interessa, e eu mesmo não sabia; não me importava com detalhes, pelo menos, não esses. Joseph trabalhava há muito tempo no internato. Ninguém nunca soube sua idade, ou melhor, ninguém nunca soube algo relacionado a ele; alguns alunos fúteis nem percebiam sua presença, e outros, não tinham interesse em descobrir. Joseph seguiu para o portão e depositou os sacos na calçada, depois saiu para cumprir seus afazeres, sejam lá quais fossem. Admito que, um imenso sentimento curioso surgiu em mim. A minha vontade de violar aqueles sacos fez com que eu fizesse tal coisa, apesar de já saber o conteúdo.
               Qual era o conteúdo?
               Não fora muito difícil de descobrir, o sangue coagulado presente em cantos estratégicos dos sacos denunciaram rapidamente o conteúdo.
              Membros de um corpo, que, em minha opinião, eram donos de uma aparência fatídica. Algum felizardo fora esquartejado e seus pedaços, jogados em dois grandes sacos sujos.  Devo admitir que, fora um choque e tanto olhar aqueles sacos. Não. Não pelo fato dos membros ensanguentados, isso é natural de se ver. Mas sim pelo fato daqueles pedaços não pertencerem à pessoa que eu imaginava e, que era mais obvia.  Sim. Não. Não sei. Dessa vez não faço ideia do que estão pensando. O corpo dilacerado não era de Katherine, e sim de Paul. Não me perguntem como eu descobri isso. Foi nojento!Simplesmente tive uma visão muito forte para se ter em um começo de dia.
               Avistei Katherine na entrada do prédio na companhia das que deviam ser suas amigas. Um sorriso inocente estava estampado naquele rosto cínico. Uma vadia assassina, quem diria? Não sei como essa garota conseguiu matar Paul de uma forma tão brilhante, mas o fato agora era que o internato tinha a presença de uma mais nova assassina. Bom, eu disse que ela faria parte das histórias dessa espelunca, só não especifiquei em qual papel ela agiria.

(Valéria Coelho)

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