Pages

sexta-feira, 11 de março de 2011

Falsa personalidade.

    As ruas estavam repletas, tanto de homens quanto de mulheres. O lugar era palco de altas conversas, discussões e, até mesmo, reencontros. No entanto, minha atenção estava exclusiva ao som baixo a abafado dos meus passos no asfalto. Absorto em meus pensamentos, quase me passa despercebida aquela grande fila em frente ao museu. As conversas e burburinhos propagavam-se por todo o lado à medida que me aproximava. Ajeitei-me atrás de uma idosa, dona de curtos cabelos grisalhos e pele enrugada, que estava na companhia de uma bela mulher, cuja aparência denunciou seu parentesco com sua companhia.
   Cercado por pessoas desconhecidas e estafantes, aguardei pouco tempo, até que o pesado rangido dos portões de madeira alcançaram meus ouvidos, seguidos de passos apressados e afobados.
    Despreocupado, pousei as mãos em meus bolsos e, dando passos calmos e firmes, desloquei-me pelos corredores fastuosos do museu, sempre atento a algo novo e interessante, ou, simplesmente, desejando encontrar um artigo tão complexo que aguçaria minha curiosidade e meu mais comprimido conhecimento de obras. Tão sorrateiros, meus olhos percorriam cada pintura com grande interesse, enquanto ignoravam a presença de várias pessoas, tornando o ar sufocante. Mas, de qualquer forma, meu vislumbro em relação àquelas artes continuou notório.
     Segui a outro corredor, onde díspares pinturas adornavam as paredes tortuosas e donas de coloração fosca amarelada. Meus olhos, como sempre curiosos, não tardaram a vasculhar cada arte, porém, do mesmo modo, notaram as pessoas ali presentes e suas reações tão divergentes quanto suas expressões.
    Minha atenção focou-se em uma família em frente a um quadro abstrato, tão semelhante a um rascunho ou um rabisco. No entanto, o patriarca admirava a beleza escondida naqueles detalhes, enquanto sua mulher e seus filhos eram donos de grande fastio. No outro lado do recinto, um grupo de alunos enfadados observava uma pintura negra, sem resquícios de outra cor, somente preto. Contudo, sua supervisora demonstrava grande conhecimento sobre obra, mas, na verdade, apenas aparentava o que não era.
    Cansado de um dia de fingimentos, revolvi voltar ao conforto de minha moradia, embora soubesse que amanhã eu presenciaria novamente tanta falsidade. Afinal, são os humanos.
 (Valéria Coelho)

P.s.: No final, acabei postando hoje, o que não era muito provável já que meus estoques de contos estão, realmente, muito escassos. No entanto, hoje recebi minha prova de redação e a ideia de postá-la me perturbou, então, pensei: "Porque não?"
Nada se opôs.

1 comentários:

Anônimo disse...

Gostei do Blog

Me visite quando puder

http://verdorinvisivel.blogspot.com/

http://tinhahquedizer.blogspot.com/

Postar um comentário