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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Conto- O beijo do fantasma.

     Eu voltava da escola em uma noite bela, porém sombria. Resolvi voltar pela rua 27, assim eu aproveitava para passear um pouco pelo parque. Eu adorava noite de lua cheia, era tão elegante, tão evolvente, mas muito traiçoeira. Percorri meu caminho sem pressa, até que avistei ao longe o pequeno balanço que costumava ser a minha predileta diversão nesse lugar. Olhei para o antigo brinquedo, relutante em sentar-me, até porque ele poderia estar enferrujado.
       Enquanto encontrava-me perdida em minhas lembranças, ouvi passos no orvalho. Olhei para trás e, nada. Só havia a bela paisagem. Dei de ombros, e voltei o olhar novamente para frente, assustando-me ao me deparar com uma alta figura morena. Soltei um abafado e, quase inaudível grito, pousando minha mão direita em meu peito, devido ao susto.
       -Desculpe por tê-la assustado. – Ele murmurou, mostrando um semblante preocupado.
       -Mas o que pensava? – Pronunciei asperamente, irritada com o susto que ele me pregara. – Apareceu repentinamente em minha frente, esperando o quê? Um “oi” amigável e normal?! – Percebi o quão grossa estava sendo, então abaixei o olhar e suspirei. – Ah, deixe para lá. Está tudo bem.
       Ele abriu um pequeno sorriso de lado, e assentiu. -O que fazes aqui a esta hora? – Ele perguntou, colocando as mãos nos bolsos.
       -Porque eu te contaria? Você é um estranho. – Respondi, deixando transparecer meu ar de sarcasmo. Ele arqueou uma sobrancelha e eu revirei os olhos. – Gosto de passear em noites como essa; algum problema?
       -Não tens medo? – Ele perguntou, mostrando-se interessado.
      -Não. – Respondi e dei de ombros. - Por quê? Eu deveria ter? – Perguntei desconfiada, encarando-o.
      Ele retribuiu meu olhar, enquanto sorria com divertimento. – Não. Não se preocupe. – Ele me fitou e, percebendo minha expressão séria e nada divertida, continuou. – Eu sou Dylan Vicci. – Ele esticou a mão em minha direção.
       -Eu sou... - Murmurei, desviando meu olhar para o lado, depois, voltando a olhá-lo. – Bom. Você não precisa saber quem eu sou, certo? – Respondi friamente.
       -Você é bem desconfiada e precavida. Isso é bom, embora a situação não exija tanta segurança. – Ele respondeu rindo, enquanto recolhia sua mão. – Antes de chegar, percebi que você encarava esse balanço. – Ele olhou para o objeto e, depois para mim. – Vamos, Sente-se. Eu garanto que é seguro.
      -E quem garante na segurança de sua palavra? – Perguntei, deixando transparecer desconfiança em meu tom, enquanto cruzava os braços. Ele encarou-me, suspirando. Em resposta, revirei os olhos e me dirigi ao velho balanço. Sentei-me, e Dylan juntou-se a mim, sentando na grama e, depois apoiando os braços no joelho. – E você? O que faz aqui? – Perguntei, encarando o nada em minha frente.
     -Eu gosto de vir aqui para pensar, relaxar... Refletir. – Ele respondeu calmo e suave sem olhar para mim. – É um bom lugar; um bom cenário para isso. – Murmurou com os olhos focados na paisagem a sua frente.
     -Por que um bom cenário? – Perguntei, enquanto olhava para ele.
     -Esse lugar foi palco de vários “episódios”. – Ele respondeu, retribuindo meu olhar.
     -Tipo...? – Perguntei com o intuito que continuasse.
     - Bom. Uma das histórias se refere a um casal de jovens apaixonados que se conheceram aqui, nesse parque. Fora amor a primeira vista. Os dois se apaixonaram simultaneamente e rapidamente. – Dylan pronunciou, voltando o olhar para frente e, depois suspirando. – Só que a menina, decorrente a fatos do passado dela, era perturbada por uma gangue de três jovens. Eles faziam da vida da jovem Magguie um verdadeiro inferno. Um dia, o garoto, não aguentando mais assistir ao sofrimento da amada, marcou um encontro com os três rapazes aqui no parque. Ele os desafiou, mas era uma briga perdida, o garoto sozinho não seria páreo contra aqueles três brutamontes, e ele sabia disso; mas ele tinha de tentar, afinal, era a vida de sua amada que estava em jogo. O encontro foi marcado para uma noite como essa que estamos desfrutando. A briga começara então, o garoto, no primeiro momento, tinha a vantagem; mas não demorara muito tempo. Os três jovens tomaram a frente da luta, torturando e espancando o jovem até a morte...
      -Oh, meu deus! – Murmurei automaticamente, mostrando-me atenta a narração. – Mas eles foram presos, certo?
     -Na verdade, não. Nunca conseguiram culpá-los, porque nunca encontraram o corpo do garoto, que fora escondido por eles, como prova de assassinato. – Dylan murmurou suavemente. Ele estava absorto em seus pensamentos. Sua mente parecia estar em outro lugar. Seu olhar estava distante. Pude perceber como seu cabelo reluzia sob a luz do luar, junto a seus olhos de mesma cor.
     -Isso não fora nada justo. – Murmurei, balançando a cabeça negativamente, enquanto abaixava o olhar, e dava um longo suspiro.
      - Dizem que o espírito do garoto ronda por esse parque em noites como essa. A procura de uma garota que o ajude a encontrar seu corpo e, assim, ele pudesse finalmente descansar em paz.
     -E porque somente uma garota? – Perguntei, voltando meu olhar para Dylan.
     -Não sei. Talvez pelo fato dele ter se separado de sua amada de uma forma trágica. – Dylan respondeu, enquanto levantava-se. Eu o acompanhei. – E também, porque o único jeito de entregar a missão à pessoa é selando um beijo. – Ele finalizou, pondo-se em minha frente, encarando-me. Sua face estava séria e, eu pude finalmente entender.
     -Q-Qual o nome do garoto da história? – Perguntei ofegante com o tom de voz abafado, dando dois passos para trás. Ele abriu um sorriso de lado quase imperceptível, inclinando-se em minha direção e, sussurrou suavemente em meu ouvido, trazendo-me pequenos arrepios:
    -Dylan.
    Não tive tempo de reagir, ele aproximou-se mais de mim e, logo pude sentir seus lábios gélidos nos meus. Senti todo meu corpo estremecer e, então reabri meus olhos, notando que sua presença já não existia ali.
    
     Bom. Eu acabei de ser beijada por um fantasma e, ao mesmo tempo, fadada a encontrar seus restos mortais. Estou louca, sim ou com certeza? Oh, céus. Estou bastante ferrada.

By: Valéria C.

1 comentários:

Telkom University disse...

Como a narradora descreve a paisagem e o ambiente enquanto passeia pelo parque na noite em questão?
O que a narradora sentiu ao avistar o antigo balanço e por que ela relutou em sentar-se nele?
Greting Telkom University

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