Pages

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Contos de russemontes - 4º história

         Frio. Muito frio. O vento propagava-se forte. A noite estava no seu auge. A rua estava deserta e molhada pela chuva, que atingira a região há pouco. Ruídos, pequenos ruídos provinham da rua; mais especificamente passos, leves e firmes. Embrulhada em seu casaco, Sophie andava cautelosamente pela calçada, que se encontrava escura, iluminada apenas pela luz da lua, que estava cheia. A luz proveniente dos postes não funcionava, nenhum estava ligado; talvez fora obra da forte chuva que acontecera.
          A menina de longos cabelos loiros parecia tão absorta em seus pensamentos que nem se dera conta de onde estava. Ouviu um ruído diferente, vindo de algum lugar naquela rua, de algum beico, ela não sabia. Levantou a cabeça, deixando a mostra o verde intenso de seus olhos. Sua pele era branca, mas não pálida. Usava uma capa preta com um capuz, tendo por baixo uma saia preta até a altura do joelho, e uma blusa tomara-que-caia da mesma cor. Uma meia listrada unia-se á seu vestuário, junto a sua sapatilha preta. Escondido por entre os cabelos de Sophie estava aquele colar, aquele que denunciava a identidade da menina; um pentagrama.
        -Não acha que está tarde para ficar andando por aí? – Uma voz desdenhosa e desafiadora soou – Está subestimando demais.
        Sophie parou ao lado do beico, tirando o capuz que usava, e voltou-se para a figura escura que saía das sombras.
        -Pare com infantilidades, Hector. – Sophie falou friamente – Estou aqui por motivos óbvios. Peço que não se intrometa... – Ela deu uma pausa e olhou para o relógio em seu pulso. – E não faça com que eu me atrase.
        -Está se garantindo demais, não ouse falar comigo dessa forma. – O jovem anjo soltou uma risada maldosa, mas fria. Arqueou a sobrancelha, lançando-o um olhar questionador. – Enfim, óbvios? Não consigo ver nada que seja tão transparente.
         -Sim. É óbvio você não saber. – Ela manteve a frieza em seu tom. –Não que eu queira desrespeitá-lo, meu caro Hector. O fato é que as coisas mudaram... As coisas sempre mudam. Não há para onde fugir. Ontem, outras criaturas poderiam ser as mais poderosas, mas hoje podem ser mais uma das milhares criaturas que por aí vivem.
           -Você ainda é nova, Sophie. Não sabe o que diz, não sabe nem ao menos o que vai fazer de seu futuro. – Hector respondeu, mantendo um sorriso perverso. – Tome mais cuidado com o que fala, estou lhe aconselhando. Depois, pode ser tarde demais.
           -Desde quando é meu amigo? Se conselho fosse bom, não seria de graça. – Sophie resmungou, embora mantivesse sua expressão vazia. – Além do mais, porque eu o ouviria? Ou melhor, porque eu confiaria em você? Para todos os efeitos, você continua sendo um traidor, ou melhor, um anjo traidor.
           -Por isso mesmo, minha amiga Sophie. Os anjos. Um dos primeiros seres a pisarem na terra. Um dos primeiros habitantes desse inferno. – Hector recuou um ou dois passos, talvez três; adentrando-se novamente naquelas sombras. – Além do mais, não tem somente me subestimado, mas sim, os demônios também. Eles podem ter qualquer forma. – Ele ajeitou uma mecha de seu cabelo, que caíra sobre seu rosto. - Você pode estar certa em parte, Sophie. Os tempos realmente mudaram, eles não são mais controlados, mas isso não os torna fracos e indefesos, muito pelo contrário, não concorda?
          -Mas continuam antigos, ultrapassados; poderes arcaicos. – A jovem menina parecia ter cada resposta pronta, seu tom não demonstrava basicamente nada, apenas frieza.
          -Isso pouco importa. – Ele soltou uma risada frenética, embora baixa. – E acha que seus poderes poderiam ultrapassar os vastos poderes existentes sob o domino de Anjos e demônios? Não seja tola, jovem bruxa. Alguns rituais não são o bastante para você se garantir tanto. Admiro sua frieza e sua forma de lidar com as situações, mas você está indo longe demais. –Pronunciou com convicção, embora tivesses riscos de blefe.
          -Como eu já disse antes... Não se intrometa em assuntos dos quais não fora chamado. – Sophie respondeu asperamente, recolocando o capuz. – E deixe-me ir. Já me alugou demais. – Ela já recomeçara a andar, sem esperar resposta da parte de Hector.
         -Nós nos encontraremos novamente, Sophie. – Hector sussurrou, adentrando na escuridão.
         Nada sabia-se sobre os mistérios e planos resguardados na mente de Hector. Ficara claro que não era um anjo qualquer. Aliás, não era um ser qualquer. Porque não capturara Sophie? Talvez, estivesse dentro de seus planos perversos. Mas desistira. Pensara, então, em novas opções ou... novos joguinhos? Apenas suposições. Ele era um anjo que em hipótese alguma rejeitaria uma diversão. Adorava um acerto de contas e, era fascinado por qualquer chance de aumentar suas brincadeiras, usando para tal, a vida de outros seres.

        By: Valéria c.

1 comentários:

abraao manoel disse...

Seu blog é muito legal voce escreve muito bem
http://descansandoamente.blogspot.com/

Postar um comentário