Pages

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Lembranças

      O tempo estava frio, quase congelante. O céu encontrava-se nublado, mas não chovia. Era sempre assim, todos os dias que eu visitava esse lugar, o clima sempre encontrava-se desse modo. Percorri toda a extensão da entrada, relutante em continuar meu caminho; hoje por algum motivo não sentia-me bem naquele lugar. Pensei em voltar, mas não, eu não conseguiria. Respirei fundo, fechando meus olhos, mas logo reabrindo-os e, passei pelos grandes portões de ferro da entrada, onde logo acima havia a placa: Cemitério de Saint Peter. Dirigi-me lenta e cautelosamente por entre as tumbas, até chegar à parte mais afastada do cemitério. Próximo ao Salgueiro de Luce, ou melhor, abaixo do Salgueiro estava a sepultara que eu procurava. Senti meu estômago embrulhar, ao ver aquela imagem. Eu devia já ter-me acostumado, já faz tanto tempo. Aproximei-me da lápide, e a toquei levemente; senti um arrepio percorrer todo o meu corpo. O mediano objeto de pedra estava gélido. “Victor Harris. 12 de dezembro de 1994 à 11 de setembro de 2010” Por uns segundos encarei essas inscrições, até que uma lágrima escorreu pela extensão do meu rosto, fazendo com que eu fechasse os olhos. Uma forte brisa passou, percorrendo meus cabelos, esvoaçando-os. Lembro-me detalhadamente como ocorrera. Até hoje, essas lembranças voltam para me assombrar.
             Tudo começou um mês antes da morte de Victor. Nós éramos namorados, quando ele sofreu um acidente de carro, e perdeu todas suas memórias. Fora perturbador, quase insuportável. Ele não se lembrara de mim, apesar de que nos amávamos incondicionalmente. Então, mesmo que doesse, eu resolvi afastar-me dele, para o próprio bem do meu amado. Por dias, chorei sozinha, inconsolável; pensando que havia o perdido para sempre. Mas eu, todos os dias, o observava de longe, prezando pelo seu bem-estar. Um dia, eu saíra mais tarde da escola em direção a minha casa; quando fui abordada por um assaltante. Coincidentemente, Victor passava por ali quando aconteceu. Ele observou a cena e, partiu para cima do assaltante. Foi uma briga feia, Victor estava machucado, muito machucado; mas o homem estava em situação semelhante. Meu amado conseguiu machucar a perna do assaltante, deixando-o imobilizado. Mas quando Victor estava à certa distância do homem, ele tirou de seu casaco uma arma, colocando-a na minha direção e, depois murmurou: “ Eu posso ser pego, mas algum de vocês vai pagar”. E então ele atirou em minha direção. Fechei meus olhos automaticamente, mas não senti nada ter me atingido, então abri meus olhos lentamente; relutante em relação ao que eu poderia ver. Senti um forte aperto no meu coração quando avistei Victor em minha frente. Ele colocou-se na minha frente e, assim recebeu o tiro. Com dificuldade, murmurei abafadamente: “Por quê?”. Ele deu um pequeno sorriso de lado e murmurou: “Eu apenas senti que devia lhe proteger”. Ele finalizou, fechando os olhos, e caindo em meus braços. Na mesma noite, a noite do dia 11 de setembro, foi dada a morte do meu amado. A bala havia atingido o coração em cheio.

              Apesar de tudo, o amor nunca é esquecido. É um sentimento puro, magnífico; basta ser verdadeiro,e ele lhe surpreenderá.
        By: Valéria c.

0 comentários:

Postar um comentário