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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Contos de russemontes - 3º história

       Gritos abafados. Rugidos arrepiantes. Esses eram os ruídos que aquele casarão propagava. Sua localização era, em uma primeira impressão, normal. Ficava no final da Rua 14, ocupando um vasto terreno, o maior da rua, ou melhor, o maior do bairro.
       A iluminação aos arredores da construção era precária, praticamente nula. A fraca e falha luz dos postes iluminava apenas pequenos cantos da calçada.
      O céu acima do casarão sempre estava nublado com uma cor escura, negra. Parecia que as nuvens estavam formando um redemoinho, que terminava justamente na torre mais alta do casarão, esta tinha apenas uma grande janela voltada para a rua. Era inexplicável.
      Todo o terreno do antigo casarão era coberto por várias espécies de plantas e árvores, dificultando a visão da desgastada e antiga fachada de entrada. As cores das paredes externas eram escuras, mas talvez assim fossem por serem deveras antigas.
      Um grande portão de ferro guardava aquela aterrorizante mansão, este sempre se encontrava fechado por grandes, pesados e antigos cadeados dourados, mas pouco escuros, devido ao desgaste do tempo.
       Andando leve e cautelosamente, Hector possuía a visão fixada na torre mais alta do casarão. Suas expressões eram indecifráveis, mantinha sempre um sorriso vazio estampado no rosto. Lançou um olhar examinador para o céu árduo e escuro, e murmurou mentalmente: “Estão levando muito ao pé da letra a palavra: Apocalíptico.”
      Dirigiu-se para a construção antiga e sombria, cuidadoso como sempre. Chegou ao grande portão, enferrujado pelo tempo, e tocou de leve no cadeado. Vários raios de choque atingiram o corpo do anjo, percorrendo e, fazendo com que ele tirasse suas mãos em um movimento rápido. “Droga! – Balbuciou”
       Ele analisou por um momento a entrada e depois tirou dos bolsos uma luva preta, colocando-a na mão direita. Novamente, voltou a tocar nos cadeados pesados, e percebendo que os choques não tinham mais efeito, apertou-o entre as mãos, fazendo com que o objeto fosse destruído facilmente. “Agora sim.” – Murmurou vitorioso.
       Retirou o outro cadeado com extrema facilidade, e assim empurrou os antigos portões, fazendo com que rangidos pesados e agudos se propagassem pelo extenso terreno da construção.
      Pôs-se em direção à desgastada mansão principal, aumentando sua cautela. Chegou ao mediano portão de madeira e, sem o bater, empurrou-o, o que trouxe mais rangidos. Entrou na imensa escuridão do lugar, sendo iluminada apenas pela luz da lua que adentrava pela porta, e por alguns pontos no telhado.
       -O que fazes aqui? – Uma voz grossa e desumana soou por todos os lados, fazendo com que fosse impossível conhecer sua origem. – Hector, sua audácia ainda lhe matará. Saiba diferenciar coragem de burrice.
       -Não sou audacioso, muito menos ignorante, caro Vince. – Hector pronunciou friamente, atento a qualquer ruído. – Sabes que eu não ousaria pisar nessa imundice por coisas inúteis. – Ele cruzou os braços. – Agora me digas, porque esse lugar? Eu soube que demônios eram discretos, mas isso está longe de discrição. – Bateu o pé direito no chão de madeira, fazendo com que a poeira se erguesse. – E esse céu apocalíptico? Ah, vamos lá. Saber que você, ou melhor – Pigarreou -, vocês não haviam se instalado no parque fora muito fácil.
       Uma risada maldosa soou pelos cômodos do casarão, fazendo com que o mesmo estremecesse.
       -Hector, não sejas tão idiota. – A voz retomou seu tom vazio e desumano. – Esse lugar é obvio demais para a fraca e débil mente dos humanos... A menos que tenha dito a alguém sobre a localização.
       -Por favor... Mostre alguma inteligência. Não sou tão imbecil para fazer isso. – Hector revirou os olhos. – E sem mais protelações, vamos direto ao ponto. Sei que estás caçando bruxas, e depois as matando de forma dolorosa.  Aquela garota, que capturou no parque, é uma, certo?
      -Jovem anjo, sabes que essas criaturas “mágicas” – Vince soou desdenhoso. – são uma ameaça para todos, principalmente para os demônios. Elas e a maldição dos seus feitiços aterrorizam muitos e, caso forem experientes e fortes, podem pulverizar qualquer criatura com apenas um olhar.
     -E porque estás caçando as jovens? És louco ou perdeu o raciocínio? Acredito que esse mundo não tem lhe feito muito bem. – Hector soltou uma gargalhada vazia e, de certo modo forçada. – Elas podem, talvez, se tornar bruxas fortes, mas precisariam de um auxilio proporcionado por um feiticeiro mestre ou, bruxas experientes. Se continuar assim, as mais poderosas continuaram vivas.
     -Aprenda a blefar, anjozinho. Estás fazendo isso para que eu conte meus planos, mas lhe digo que não conseguirás. Escolha seu lado, antes de exigir algo.
     -Mas eu já fiz minha escolha. – Hector murmurou entre dentes.
     -Isso é o que veremos. – A voz ecoou pelos cômodos e Vince foi-se, deixando Hector na companhia da escuridão. O anjo soltou uma risada maldosa e voltou pelo caminho o qual viera.
         By: Valéria c.

1 comentários:

max disse...

interessante, quero ver a continuação logo logo

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