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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Águas e Lágrimas

    Sob o céu nublado, o vento passeava bruscamente, exaltando a grama e as folhas das árvores, assim como os longos cabelos loiros de Lucy, que em certos momentos recaíam sobre a face bronzeada da garota, inclinada levemente para baixo. Seus olhos esfumaçados estavam prestes a fechar, sem brilho. As feições delicadas da menina estavam relaxadas, sem esboçar sorriso algum. O tempo frio tornava as correntes de ar gélidas, que, ao atingirem o corpo magro de Lucy, causavam pequenos arrepios na menina, fazendo os pelos de seus braços eriçarem. A garota caminhava lentamente pela grama verdinha, enquanto uma toalha branca apoiava-se em seu ombro direito, seguindo em direção à piscina. O seu maiô preto dava um ar triste ao momento, tornando-o mais doloroso a Lucy. Ela aguentara muito tempo antes de se encontrar sozinha. Ela precisava desse tempo, aliás, ela precisava de tantas coisas, que a simples menção em necessidade a causava arrepios. Lucy não sabia ao certo o que estava sentindo, mas não gostava de ter tais sensações. Não fazia muito tempo que se mudara, estava alegre e feliz, embora tivesse deixado belos e eternos amigos na antiga cidade. Entretanto, estava aqui para mudar de vida, seguir um novo caminho.
   Era uma menina nova, cheia de sonhos e aspirações. Pelo menos, até agora tinha se dedicado ao máximo em conquistá-los, mas não era fácil, nada era. Ela sabia que a vida não a entregaria de bandeja, mas também não tinha o conhecimento que seria tão sofrido e mórbido. Dentre tantos acontecimentos que a fizeram fraquejar e ter pensamentos desistentes, ela estava cheia, sua cabeça era possuidora de tantos problemas e questionamentos. Isso a estava enlouquecendo. Queria se livrar de pelo menos um desses fatores, da dúvida que assolara seu sono desde o seu segundo dia de aula. O quanto difícil seria contar a alguém sobre seus sentimentos? Lucy não sabia. Nunca havia feito tal coisa, aliás, nunca tinha gostado realmente de alguém. Esse sentimento era tão novo, tão estranho, tão egoísta. Ela não o queria, não daquele jeito. Se pudesse expulsá-lo, com certeza o faria. Mas nada podia rebater, não controlava essas emoções involuntárias que agiam sem o consentimento de sua razão, de ser cérebro.
   Esta manhã, acordara desolada e cansada. Estava no limite, não aguentava tudo guardado. Chegara na escola tão desarrumada, com olheiras profundas e, ao observar ao longe, no corredor, aquele que tanto pensara nos últimos dias, não relutara em seguir em sua direção e despejar tudo que sentia, que sofria, que estava cheia. Depois de praticamente enxotar as palavras de sua boca, Lucy encarou o garoto, que a lançou um olhar tão errático, tão opressor. Era um misto de sensações ruins. Esse olhar provocou na garota o mesmo que uma adaga afiada penetrada com força no coração dela provocaria.
 Lucy teve de enfrentar horários e mais horários torturosos até que estivesse de volta a sua casa, a seu refúgio. E, agora estava ela, ansiando um mergulho na água gelada de sua piscina.
   Retirou a branca toalha de seu ombro, lançou contra a cadeira e a virou-se, encarando aquelas águas paradas e azuis resplandecentes. Aproximou-se da borda até que a metade de seus pés estivesse pairando sobre a água e a outra metade, apoiada no mármore da borda. E levando a ponta dos dedos da mão até os do pé, inclinou-se, dando um impulso e mergulhando piscina adentro, propagando um som pesado e leve. Passara certo tempo imersa até que subira a superfície em busca de ar, deixando os pingos de água percorrerem o perfeito contorno de seu rosto.
    Lucy passara o resto da tarde em seu recanto. E vez ou outra, mergulhava tão fundo, que seus soluços e gemidos eram abafados pela forte pressão da água. Ela estava liberando suas magóas, suas lamúrias. Estava desabafando, misturando suas lágrimas às águas da piscina. Depois dali, estaria limpa, renovada. Era hora de um novo começo.
(Valéria C.)

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