Pages

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Conto - Uma nova história . Parte 2

        Entre gritos e gemidos assustados, Cathy conseguiu sobreviver ao filme, embora ela tenha esperneado como uma criancinha para que Marina desligasse aquela tortura.
        -Eu disse que você não ia morrer! – Marina indagou alegremente, levantando-se da poltrona e espreguiçando-se.
      -Agora danos psicológicos que, provavelmente você me causou... – Cathy bufou, ainda presa a almofada, recusando-se a soltá-la.
      -Quando menos esperar você superará. – Marina seguiu em direção a amiga e, parando em frente a ela, agarrou suas mãos. – Agora vamos. Levante-se desse sofá. – Ela começou a puxá-la, mas Cathy balançou a cabeça negativamente, encostando-se no encosto do sofá. – Um dia você terá que sair desse s... – A fala de Marina fora interrompida pelo toque de seu celular. Ela soltou as mãos da amiga, retirou o objeto barulhento do bolso e encarou a tela. – Espere um pouco. É minha mãe. – Ela levou o celular ao ouvido, seguindo para a cozinha.
      Cathy percorria os olhos pela pequena sala de sua casa. Temerosa e ainda assustada observou sua gatinha deitada em uma almofada ao lado da estante da teve. “Mayu-Pronunciou mentalmente.” Cathy sentiu-se tentada a ir até sua gata, que dormia profundamente, contudo o medo a privara de se locomover. Encarou, então os brilhantes pêlos brancos de seu animal de estimação, enquanto os mesmo esvoaçavam-se devido ao vento que entrara pela janela, desviando das cortinas transparentes.
     -Péssimas noticias. – A voz de Marina soou, seguida de um suspiro, deixando transparecer aborrecimento em seu tom. Cathy, antes entretida em Mayu, fora tirada de seus devaneios e forçada a olhar para a amiga. Marina adentrou a sala, ainda com os olhos no celular, depois voltando-os à Cathy. – Minha mãe me ligou. – Ela revirou os olhos. – Praticamente, obrigando-me a ir a um jantar de família. Parece que não vou dormir aqui hoje. –Bufou – Desculpe-me. Ficará bem?
      - Sem problemas, Marina. – Cathy deu de ombros, enquanto observava a amiga do sofá. – Deixe para outro dia. Apenas não me force a algo que eu não quero novamente. – Ela apertou os lábios, deixando transparecer um pequeno sorriso de lado.
       - Tem certeza? – Marina lançou um olhar desconfiado à Cathy e, ao notar as feições relaxadas da amiga, pegou sua bolsa encima da mesa de centro da sala, colocando-a em um de seus ombros. – Tudo bem. Me liga amanhã. – Ela balançou o celular na direção da amiga, abrindo a porta e adentrando-se na noite, indo embora.

       Cathy encarou a porta, pela qual Marina acabara de sair, deixando sua mente inundar-se de pensamentos. Ela piscou os olhos três vezes e sacudiu a cabeça, expulsando as cenas do filme, que ainda circulavam por sua memória. Jogou a cabeça para trás, fechando os olhos e esvaziando a mente. Encarava o escuro profundo de suas pálpebras, quando um miado, seguido de um chiado, interrompeu seu descanso.
       A menina levantou a cabeça rapidamente, encolhendo-se no sofá e espiando, temerosa, o lugar da onde provinha o ruído. Observou Mayu andando pelo corredor em direção ao seu quarto. Cathy suspirou aliviada e decidira dormir logo. Levantou-se do sofá, deixando a almofada que segurava, desligou o interruptor e, dando passos leves e cautelosos, seguiu a gatinha branca, até que a mesma passou pela pequena brecha da porta entreaberta do quarto.
      Cathy empurrou a porta de madeira, que causara um agudo rangido, deixando a visão do seu quarto a mostra.  Uma brisa gélida atingiu o corpo jovem da menina, trazendo-a arrepios.  “Droga!Deixei a janela aberta de novo.” – Cathy pronunciou mentalmente, cruzando os braços, tentando se aquecer
       Ela percorreu os olhos pelo cômodo escuro e vazio, e ligou o interruptor, localizado próximo a porta.A luz preencheu o quarto, agora com a presença da gatinha e da menina de cabelos negros. Ainda parada no lugar entre o corredor e o quarto, Cathy voltou o olhar para a passagem a qual acabara de sair, até que seus olhos a levassem à porta do fim do corredor, onde era o quarto de seus pais.
      A menina deixou-se lembrar o quanto aquela casa ficava vazia com as viagens frequentes de seus pais, devido ao cansativo trabalho dos mesmos. Lembrava-se de quando tinha cinco anos e seus pais a presentearam com Mayu para que ela não ficasse tão solitária. Claro, surtiu efeito nos primeiros anos, mas depois com a juventude de Cathy aproximando-se, a gatinha Mayu não conseguia mais suprimir o vazio, que só podia ser preenchido por alguém humano.
      Cathy suspirou pesadamente, abaixando o olhar e voltando-se para o seu quarto. Ela soltou um gemido abafado quando pensara ter visto uma sombra locomover-se próxima a janela. Pousou a mão no peito, este subia e descia rapidamente, devido à sua respiração descompassada proveniente do grande susto.
       A menina seguiu para a janela, andando a espreita, dando passos leves e pequenos. Aproximou-se mais e então, apoiou-se no parapeito da janela, olhando atenta e cautelosa a rua, molhada e escura, escassa de qualquer presença humana. A fraca luz dos portes iluminava apenas pequenos cantos, provocando o aparecimento de beicos e espaços escuros. Cathy percorreu os olhos ao longo da rua até aonde sua visão a permitia.
        Seus pensamentos estavam longínquos, quando fora retirada de seus devaneios ao olhar, pela visão periférica, um vulto locomover-se por suas costas. Olhou de soslaio para trás, congelada e paralisada pelo medo e, se não fosse por Mayu, cujo miado a acordou de seu transe, ela ficaria um bom tempo inerte.
      Cathy voltou o olhar novamente para a paisagem além da janela, antes de fechá-la juntamente a cortina. “Sabia que não deveria ter cedido e assistido aquele filme” –Lamentou-se.
    Após ter desligado o interruptor, seguiu em direção a sua cama que, embora servisse à apenas uma pessoa, era de casal. A menina retirou o edredom, com coloração azul clara, até a metade da cama, onde se deitou, puxando novamente o objeto até que estivesse coberta até o pescoço.  Semicerrou os olhos até que os mesmos fechassem completamente, inundando a sua mente em um profundo escuro, que não demorou a ser substituído por pensamentos e devaneios, além das cenas macabras e horripilantes do filme que acabara de ver, que insistiam em perturbá-la.
     Um ruído agudo e pesado propagou-se pela casa, fazendo Cathy levantar-se apavorada da cama, encolhendo-se no edredom, enquanto o puxava para si e esmagava o tecido com as mãos. Ela esperou um pouco até que, ao menos, suas pernas obedecessem a seus comandos e parassem de tremer. Olhou de relance para o lado, onde observou Mayu em um profundo sono em sua cama confortável, cuja coloração variava em tons claros. As feições da gatinha branca eram tranqüilas, embora fossem enigmáticas. Mas também, era apenas um animal.
      Cathy abaixou o olhar, enquanto respirava pausadamente e então, levantou-se da cama, colocando os pés, protegidos pelas meias brancas, no chão gélido do quarto. Andou lentamente até a porta entreaberta do recinto, permitindo que riscos da luz do corredor adentrassem no cômodo. Ela espiou o corredor vazio, olhando para os dois lados. Confirmando que nada, além dela, estava ali, arriscou-se a andar pela passagem, dirigindo-se, mais uma vez à sala. Dando passos curtos e delicados, Cathy apoiava uma das mãos na parede branca à medida que prosseguia.
       Chegando ao cômodo escuro, a menina não tardara a acender a luz. “Preciso de um pouco de água.” – Aconselhou-se Cathy, lançando um olhar para a cozinha e seguindo em direção ao cômodo. Aproximou-se da grande geladeira prateada e, antes de abri-la, encarou uma foto, sua e de seus pais, pregada na porta. Ela percorreu os dedos pelas bordas da foto e suspirou, logo sacudindo a cabeça e voltando a si. Cathy vasculhou a parte interna da geladeira, observando as garrafas vazias, até que avistou uma jarra de vidro contendo água. A menina pegou o objeto, e em seguida fechou a geladeira, voltando-se então para a bancada, onde encontrou um copo.
          Enquanto inclinava a jarra, deixando a água escorrer para dentro do copo, um forte estrondo propagou-se pela casa, a porta de algum cômodo havia fechado bruscamente. Com o susto, Cathy deixou a jarra escorregar de suas mãos, quebrando ao chocar-se com o chão.
         Não importando-se com os afiados cacos de vidro espalhados pela cozinha, a menina saiu em disparada para a sala, onde, depois de pegar o telefone móvel encima da mesinha, jogou-se no sofá, encolhendo-se, enquanto segurava contra o corpo a almofada que usara anteriormente.
       Cathy tremia ao mesmo tempo em que fazia o telefone sacolejar em sua mão. A sua branca pele estava sem cor, seu rosto estava pálido. Ela encarou o telefone, tentando lembrar-se do número de alguma pessoa útil. [...]
(Valéria C.)

0 comentários:

Postar um comentário