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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Infância

      Posso afirmar que tive uma bela infância. Cheia de sonhos, aspirações, brincadeiras. Eu cometia erros, fazia coisas erradas, contudo, eu sabia que minha mãe estaria ali para me repreender e para me ensinar o correto. Eu gostava de me sujar, gostava de explorar, gostava de fazer amigos. Eu via o mundo de forma diferente. Tão estonteante. Tão magnífico. Tão perfeito. Tão... Divertido e Ingênuo. Eu usufruía cada minuto do meu dia, fazendo o que eu tinha vontade, embora algumas vezes eu me machucasse, eu tinha a certeza que eu chegaria em casa, minha mãe colocaria Mertiolate e sararia e, então, no dia seguinte eu poderia voltar a minha diversão contínua.
     Eu sorria com a simples visão do céu estrelado. Eu me impressionava com o beija-flor, batendo suas asas em uma velocidade surreal, enquanto pousava nas lindas flores do meu jardim. Eu adorava dias de domingo, quando eu acordava primeiro que meus pais e, então, eu ia acordá-los, mas antes, não me esquecia de acordar minha irmã, essa, ao contrário dos meus pais que me recebiam com um sorriso no rosto, me repreendia por ter a acordado. Mas eu não ligava. Eu sabia que depois tudo estaria resolvido.
       Eu adorava visitas de parentes, quando estes não faziam perguntas desconfortáveis. Eu era fascinada pela noite. Tentava ficar acordada ao máximo e, mesmo que estivesse cheia de sono, eu repreendia meus pais por me mandarem para cama naquela hora. Eu implicava com minha irmã por ela ter direito a certas coisas que eu não tinha, embora meus pais me explicassem o porquê, eu não conseguia entender, eu não me conformava.
          Eu temia trovões e tempestades, simplesmente achava que o mundo iria acabar. Os estrondos eram tão altos que eu chegava a tremer. Lembro quando eu acordava em plena madrugada, suada e ofegante. Acabara de ter um pesadelo e, andando pelo escuro da casa, eu seguia para o quarto de meus pais, onde estes me recebiam num conforto paternal que eu não trocaria por nada.
         Eu odiava assistir às brigas dos meus pais. Eu tinha medo. Eu me escondia para não ouvir nem ver. Contudo, depois de tudo, eu observava meus pais demonstrando amor novamente. Vendo o sorriso estampado em seus rostos, eu podia saber, eu tinha certeza que tudo estava bem.
          Lembro quando eu ficava doente. Meus pais cuidavam de mim com tanto carinho, demonstrando tanta preocupação, que eu podia sentir o conforto que isso me transmitia. Eu ficava zangada quando meus pais me proibiam de fazer alguma coisa, de ter alguma coisa, embora eu soubesse que eles só queriam meu bem.
           Odiava ter de me separar da minha mãe, quando esta me deixava na escola. A imagem do meu primeiro dia de aula continua firme em minha mente. Lembro que minha mãe acabara de me deixar aos prantos na sala de aula. Eu não queria que ela fosse. Eu achava tudo aquilo muito estranho. Eu me perguntava: “Porque minha mamãe está me deixando com essas pessoas desconhecidas?” Mas eu sabia que minha irmã estudava ali também, então, desesperada em encontrar alguém familiar, saí correndo em direção à sala de aula dela, onde, quando a vi, não hesitei em abraçá-la até que meus medos sumissem.
      Eu achava minha irmã um exemplo. Eu simplesmente achava que nada podia derrotá-la. Eu sonhava em crescer e me tornar igual a ela. Eu a admirava plenamente e, por causa disso, tentava sempre superá-la, implicando e isso a irritava profundamente. Brigávamos, tanto fisicamente quando verbalmente, mas, no fim, posso afirmar que em nenhum momento deixei de amá-la.
         Conheci amigos que participaram de momentos importantes da minha infância, mas que hoje não tenho tanto apego assim. Eu amava sair com meus pais. Lembro da primeira vez que fui a um parque de diversões de verdade. Eu olhava tudo como se não fosse desse planeta, era tão inacreditável. Aqueles brinquedos enormes e altos, girando, girando, girando. Ficava tonta só de pensar.
         Eu era ativa. Não gostava de ficar parada. Sempre queria estar fazendo algo e, eu podia estar na tarde mais tediosa que fosse, mas eu conseguia me divertir só de ter um jardim e alguns brinquedos.
         Eu amava o amanhecer. Adorava ver a vizinhança acordar. Todos se preparando para um novo dia. Adorava dar um beijo em meu pai quando este saía para trabalhar e, passava o dia todo esperando, ansiado sua volta.
         Eu amava viajar e matar as saudades dos meus primos. Brincava com eles a tarde toda até que minha mãe me chamasse. Lembro de como eu e minhas amigas fazíamos planos para quando crescêssemos. Achávamos a adolescência tão animada, tão divertida, tão tentadora. Antes eu preferia brincar ao ar livre à ficar em casa entretida em um computador. Eu achava meus pais os seres mais poderosos existentes, e o único que conseguia superá-los era Deus.
            Eu passava o ano todo ansiando pelo natal, onde aguentar acordada até meia noite era um obstáculo que, toda vez, eu, confiante, estava apta a passar. Mesmo não conseguindo, eu sabia que próximo ano eu teria outra chance. Lembro de ficar inquieta antes de dormir na véspera de natal. Eu ficava imaginando o que papai-noel traria para mim dessa vez. Lembro-me de minha mãe alertando-me de que ele só viria quando eu dormisse. E eu, ansiosa, não tardava a dormir à espera da tão esperada visita.
             Eu admirava os enfeites natalinos, as árvores de natal, e almejava, um dia, vivenciar o natal em um lugar com neve. Fim do ano era minha época predileta. Tão mágica! Eu pensava que nada de ruim podia acontecer nesse período. No ano-novo, eu superava o sono para assistir a tão estonteante queima de fogos de Copacabana. Sentada em frente à televisão, eu só levantava-me quando acabasse. E quando chegava o ano e todos ao meu redor brindavam felizes e entusiasmados, eu pensava que nada podia acabar com esse momento, que nada podia nos afetar. Aos meus olhos, minha vida era perfeita, embora, em certos momentos, eu duvidasse.
E hoje, já crescida, me pergunto: “Cadê essa magia?”
(valéria c.)

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