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sábado, 29 de janeiro de 2011

Constatação.


Os sonhos me perturbavam. Era uma perseguição em minha própria cama. Eu revirava de um lado para outro, ofegando, enquanto gotas de suor se formavam em minhas têmporas e percorriam pelo meu rosto até o meu pescoço. Àquela altura, eu já não sabia distinguir o real da alucinação. Antes de dormir, ou, pelo menos, deitar em minha cama e encarar o vazio, inundando minha mente de coisas vagas, eu deixara aberta a janela do meu quarto. Mas eu não me incomodava com o calor, eu apenas queria sentir aquelas correntes de ar solitárias e lutuosas acariciando minha pele, mesmo que, muitas vezes, elas recostassem de forma agressiva, tornando-se ásperas e cortantes. Aquela torturante noite se estendeu de forma inacreditável. O tempo não passava, os segundos pareciam se arrastar, como se algo os puxassem de volta para o passado, como se algo os sugassem. Eu queria acordar e fugir daquela perseguição mental, mas a realidade me assustava mais. Enfrentar aquela noite acordada e encarar aquela escuridão amedrontadora e isoladora, tendo como companhia apenas as sombras e uma fértil imaginação inútil, era torturante demais. Eu sei que os acontecimentos desse plano real são concretos e irreversíveis. Agora, eu estou entre um medo incoerente por meus dois mundos. Meus dois trágicos e sofredores mundos.
Acordei finalmente, enquanto a luz rala do sol adentrava o meu quarto, denunciando minhas expressões desgastadas e mórbidas. As imagens dos meus sonhos pareciam me assolar até agora, trazendo para a realidade a dor psicológica. Cada parte do meu corpo doía, cada osso estava debilitado. Talvez, eu estivesse doente. Encolhi-me na cama, virando-me na direção da janela, enquanto abraçava minhas pernas e fitava o céu nublado e escuro que se formava no horizonte.
A sensação de acordar sozinha corroe, queima, arde. Sentir-se solitária e isolada nesse mundo não é algo humano. Dói profundamente, como se nossa alma tivesse sido pisoteada, cremada ou esquartejada, ou melhor, como se não usufruíssemos mais de alma. Olhar para o lado à procura de uma figura paterna e materna, vasculhando o cômodo atrás de algum amigo ou irmão ou, até mesmo, tendo a doce, mas amarga ilusão de encontrar um amor.
Entretanto, não havia nada. Minha imaginação não era capaz de tornar reais meus hologramas.
Eu nunca me senti especial, como se minha existência sustentasse outras. Como se alguém esperasse ansiosamente para me ver, para conversar comigo. Como se meu sorriso ou minhas palavras fossem capazes de reconfortar alguém. Como se minha presença valesse algo. Como se minha simples respiração fosse capaz de formar um sorriso nos lábios de outra pessoa.
Eu nunca me senti única.
Eu apenas me deleitava da minha vaga presença.
Eu estava viva. É o que importa, afinal, não é? Mas, alguém me responda, o que adianta ter essa dádiva da vida se não é necessária, se não é usada, se não é idolatrada?
Eu não escolhi estar sozinha.
Eu não tive opção.
Mas, eu tive culpa.
Faz sentido? Não há porque ficar remoendo isso.
Hoje, como eu desejo brigar com meus pais; implicar com meus irmãos; discutir com meus amigos; tirar uma nota ruim e sofrer por um amor. Por que são essas coisas que puxam o ser - humano para a realidade, isso que os fazem se sentir vivos ou, até mesmo, necessários.
O que aconteceu comigo agora não importa mais. Não importa relatar os acontecimentos, porque, no final, só traria mais dor. Eu só transportaria para o papel o meu sofrimento. Entretanto, aqui estou, forçando-me a narrar isso para que as pessoas aprendam a dar valor às coisas que realmente importam, às coisas mínimas, mas que fazem toda a diferença.
(Valeria C.)

1 comentários:

Anônimo disse...

Oiie, eu vi seu blog numa comunidade de divulgação do orkut. Gostei do que vc escreve, por isso estou seguindo.
Se vc quiser seguir o meu: bvsouza.blogspot.com
Eu escrevo contos, crônicas e poemas.
Obg ^^

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