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sábado, 1 de janeiro de 2011

Contos de Russemontes - 6º história

      Amanheceu em Russemontes. O céu, claro e azul, estava limpo. Sem nenhum sinal de nuvens. Ensolarado e calorento caracterizavam o dia na cidade.  Em um tempo como esse, poucas criaturas ousavam sair de suas tocas e esconderijos.
      Discreto, porém sedutor, Hector andava pela Avenida Giscard d'Estaing, onde, ao lado esquerdo localizava-se a praia de Chabrol. A paisagem, apaziguadora e reconfortante, parecia uma pintura. As águas do mar resplandeciam como diamantes. A areia, avermelhada e alinhada, não possuía poluição. Vários e diferentes bares dominavam a costa da praia, onde, também fora construído um grande e longo calçadão. Não havia a presença de muitas pessoas usufruindo do clima, mas, de certo modo, a quantidade chegava incomodar o garoto anjo.
      Seus olhos, azuis, reluziam com o simples reflexo de luz solar, assim como seus cabelos negros.  A brisa, amena e ao mesmo tempo aquecida, vasculhava por entre seus cabelos, bagunçando-os.
     Mas sua aparência dificultava sua discrição. Suspiros femininos propagavam-se por onde o jovem, cretino e arrogante, anjo passava. Olhares possessivos recaíam sobre ele, mas o mesmo, ignorante e frio, continuava a seguir seu caminho, com suas diárias expressões vazias.
     Inúteis e fúteis. Assim Hector caracterizava as Humanas, principalmente as jovens. Ele, muitas vezes, lançara olhares enojados e odiosos as suas admiradoras, mas não adiantava o esforço, elas continuavam a desejar o que elas, com certeza, nunca teriam.
     Andou cautelosamente até um beico mais afastado do intenso movimento da praia. Íngreme e estreito, o lugar impedia que a luz solar penetrasse, tornando-o, de certo modo, muito escuro. Devagar e atento, Hector entrou na pequena passagem sem saída. Avistou uma figura ao longe e aproximou-se rapidamente, prendendo a tal pessoa na parede.
      -Sua traidora. – Hector pronunciou entre dentes, enquanto suas mãos prendiam os pulsos de Rose na parede. - Você juntou-se àquela... Bruxa!
     -Do que está falando? – A vampira questionou abafadamente, apertando os cílios.
     -Não se faças de desentendida!– Ele soou cada vez mais forte, elevando o tom de sua voz. – Ontem, você encontrou-se com ela e seu clã de magos. – Pronunciou com desdém.
      -Hector, você está louco! -  Rose exclamou, tentando soltar-se.
      -Pare de negar! Eu sei.Tenho certeza. – Hector apertou mais forte os pulsos de Rose, fazendo com que a mesma soltasse um grito abafado de dor. – Eu infiltrei em você uma escuta. Descobri o que você fez, mas parece que você sabia, certo? Quando os assuntos importantes começaram a ser discutidos, o meu objeto, simplesmente, é destruído. – Murmurou pesadamente, enquanto encarava os orbes da vampira.
     Rose soltou ma gargalhada maldosa, mas ao mesmo tempo forçada.
    -Não és tão idiota como eu pensava. – Ela ergueu as sobrancelhas, deixando um sorriso cínico estampado no rosto. – Agora me digas, Hector. Como esperavas que eu confiasse em você, se nem ao menos confiava em mim?
    -Precaução. E parece que fiz certo. – Resmungou e lançou um olhar fulminante à Rose. – Como podes ter se juntado à Sophie? – Questionou, incrédulo. – Pensei que estavas esquecendo essa história de família. – Suspirou, recuperando a calma. – Rose, você não é mais uma bruxa! – Finalizou, abaixando o olhar. – Pensei que tivesse aprendido, afinal, há alguns dias, afirmou que vampiros eram seres sanguinários e demoníacos.
      -Hector, eu menti. – Rose pronunciou calmamente, encarando o anjo que a segurava. – Você sabe que eu não tinha motivos para confiar em você. Não tens um lado. Estás só brincando. Como eu podia saber se não estava planejando algo contra mim? – Perguntou, arqueando uma sobrancelha.
      -Depois do que aconteceu com você... – Furioso, Hector falou pausadamente. 
     Há seis meses, Rose conhecera, em sua visão, o estereotipo de companheiro perfeito. Na época, era uma bruxa ingênua e boba, não demorara muito a apaixonar-se pelo tal rapaz. Mal sabia que, como ela mesma, ele também escondia um segredo obscuro. Descobrira, da forma mais dolorosa, a verdade. Seu namorado era um vampiro. No primeiro momento, o amor já dominava todo seu corpo e sua alma, então, se propôs a guardar seu segredo, assim como, ele guardaria o dela. Mas não fora o que aconteceu.
     Um dia, o seu namorado a chamou para um encontro. Animada, ela obviamente aceitou, apenas não esperava que fosse traída da forma mais mesquinha e repugnante. O garoto a levou para um bosque escuro e deserto. Fora lá, então, que seu namorado a confessa que revelou sua identidade aos demônios e que, caso ele não a matasse, os próprios seres demoníacos e infernais a matariam, mas antes eles iriam esquartejá-lo. Implorando pela vida, Rose tentou fugir daquele lugar, mas fora inútil.
     Talvez, o jovem e egoísta vampiro a amasse de verdade, pois não a matou, ou pelo menos, não no pior sentido da palavra. Ele a transformou em um ser imortal e sanguinário. Como os demônios reagiram? Na verdade, não reagiram, para eles não importava, contanto que a menina perdesse o dom da premonição deixado como herança por seus antepassados.
     E assim, transformada em vampira, os poderes de bruxa foram anulados, e Rose ganhou a imortalidade, mas também, fora fadada a viver insanamente em busca de sangue. Agora, somente sua irmã, Sophie, possuía o tão almejado dom.
      Como decepcionara seus princípios de bruxa, Rose resolveu redimir-se, ajudando Sophie a lutar contra os demônios. Talvez, depois consiga viver sem o sentimento de culpa por ter abandonado a irmã nessa maldição de herança
      -Rose... – Hector pronunciou trêmulo, olhando para baixo e soltando aos poucos o pulso da vampira. – Espero que você apodreça no inferno por toda a eternidade. – Gritou, empurrando Rose contra a parede, e saiu andando em direção a saída do beico.
      “Não posso apodrecer no inferno, apenas seres possuidores de alma, mas eu não tenho”-Rose murmurou com tom de voz abafado e baixo, enquanto escorregava pela parede e sentava-se no chão, encostando a cabeça no muro.    
       By: Valéria C.

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