Em primeiro momento, pensou em Marina, mas a amiga estaria em um jantar de família, ou seja, estaria impossibilitada de vir a seu socorro. O desespero e o medo já tomavam conta da menina e, sem estar mais em condições de esperar, resolveu telefonar para Dylan. O telefone chamou três vezes até que o garoto atendesse.
-Alô? – A voz de Dylan soou questionadora e tranqüila.
-Dylan, é você?! Ah, mas é claro que sim! O celular é seu, mas que burrice a minha. – Cathy murmurou afobada e nervosa, tanto pelo medo quanto por estar falando com o garoto que gostava.
-Cathy? Sim. Sou eu. O que houve? Já são onze da noite. – O garoto retrucou curioso e desconfiado.
-Ah, é uma longa história! – Cathy respirou pesadamente. – Marina insistiu pra que eu assistisse àquele filme o qual eu tanto temo! E acabei cedendo, mas como fui burra, agora essas cenas têm me perturbado de uma forma surreal. Além do mais, estão ocorrendo umas coisas macabras aqui em casa. Não sei explicar, você não acreditaria! Estou quase que desesperada. O que faço? – A menina indagava rapidamente, atropelando algumas palavras.
- Ei, Cathy, acalme-se. – Dylan pronunciou gentilmente, embora fosse transparente o seu desinteresse. – É só um filme! Tudo isso é apenas imaginação sua. Tente dormir. – Ele pigarreou. – Agora, realmente, preciso desligar. Fique bem, O.k.?
-Não, não! Você não está entendendo... – Cathy tentou argumentar.
-Boa noite, Cathy. – Ele finalizou, desligando o aparelho.
Estática, Cathy encarou o nada em sua frente, enquanto deixava o telefone escorregar e cair no sofá. Seus olhos encheram-se de lágrimas e então, pousou as mãos no rosto, cobrindo-o. Ela encontrava-se desolada e abandonada.
Quanta frieza da parte de Dylan! Como ele pôde? - Perguntava-se a menina, entre soluços e gemidos abafados.
O ruído do telefone tocando tirou a menina de seus pesares. Cathy levantou o olhar, limpando o rosto molhado com a manga de sua camisa, enquanto esticava o braço para pegar o aparelho.
-Quem é? – Cathy murmurou rispidamente, embora deixasse transparecer resquícios de medo e tristeza.
-Alô, Cathy? É você? – A voz na outra linha soou, deixando transparecer seu tom de preocupação. E como não teve resposta, continuou: - Eu liguei para Marina há pouco, procurando por noticias de vocês duas, mas ela havia me dito que, por um imprevisto, ela teve de ir embora.
-Victor! – Cathy exclamou, com o tom de voz abafado pelos soluços.
-Ei, você está bem? – Victor perguntou preocupado e desconfortável.
-Não. Não estou bem, na verdade, estou péssima! E tudo isso por causa de um maldito filme! – Resmungou, mas logo em seguida voltou a chorar.
-The Shining? Cathy! Não acredito que o assistiu. – O garoto repreendeu a amiga.
-Ah, Victor. Não é hora para sermões, por favor. – Implorou Cathy. – Eu estou com medo, assustada, desesperada. – Deixou um gemido abafado escapar.
-Espere. Estou indo para sua casa, mas tente se acalmar enquanto isso. – Victor sugeriu, e logo em seguida desligou o telefone.
Cathy jogou o aparelho encima do sofá e encolheu-se, abraçando as pernas e apoiando o queixo no joelho. Ela fechou os olhos por um momento e expirou profundamente.
Victor era o melhor amigo de Cathy desde o jardim de Infância. Os dois eram praticamente inseparáveis até que, na sétima série, Dylan ingressou no colégio dos dois e Cathy não tardou a se apaixonar por ele. E tal sentimento estendeu-se até o segundo ano do ensino médio. Os melhores amigos se distanciaram. Não fora uma separação drástica, mas fora o suficiente para diminuir alguns laços.
A campainha soando pela casa acordou Cathy de seus pensamentos, essa saiu em disparada à porta e a abriu bruscamente, deixando a mostra o corpo definido de Victor, cujos cabelos brilhosos e negros reluziam juntamente a seus olhos azuis penetrantes e a seu belo sorriso, que denunciava seus grandes dentes brancos. A menina abraçou Victor fortemente, enlaçando seus braços ao redor do seu pescoço e apoiando-se na ponta dos pés por o rapaz ser alguns centímetros mais alto.
-Estou aqui. – Victor murmurou, retribuindo o abraço na mesma intensidade. – Sempre estive.
Uma brisa gélida percorreu por entre os corpos dos dois, fazendo com que Victor levasse uma Cathy tristonha para dentro. A menina estava em prantos, mas agora o motivo não era bem o mesmo de alguns minutos atrás.
Sentados lado a lado no sofá, Cathy apoiava sua cabeça no ombro de Victor e esse mantinha seu braço envolto no corpo da garota, enquanto seu polegar massageava delicadamente a mão da amiga em movimentos circulares. Algumas lágrimas ainda escapavam pelos belos olhos verdes de Cathy, que tinham a aparência avermelhada.
-Porque ainda chora? – Victor perguntou, desviando o olhar para Cathy.
-Não sei. – A menina encarou o nada em sua frente. – Estou decepcionada com Dylan, atormentada por um filme e... – Hesitou.
-Continue. – O garoto incentivou.
Cathy suspirou, abaixando o olhar e, logo em seguida afastou-se de Victor, sentando-se de uma forma que pudesse fitá-lo, apoiando as mãos no sofá.
-Victor, porque nos distanciamos? – Ela questionou, fazendo com que o garoto se impressionasse com a pergunta, embora não demonstrasse surpresa.
-Tem certeza que não sabe? – Victor indagou, arqueando uma sobrancelha.
-Dylan?
O garoto assentiu.
-Mas não há motivos para que tenha sido isso. Você e eu éramos melhores amigos, aliás, ainda somos! Mas não como naquela época. – Argumentou Cathy.
-Você estava hipnotizada por ele. – Victor indagou tranquilamente, meio conformado. – Só tinha olhos para Dylan. –Pronunciou com desdém. – Mas, embora eu não gostasse desse sujeito, eu não poderia tirar o brilho do seu olhar quando o via. Eu não podia retirar a sua alegria, a sua felicidade por um simples egoísmo meu.
Cathy estava tão atenta a conversa que não percebeu o rumo que tal conversa estava tomando.
-Não era egoísmo! – A menina exclamou – Você tinha razão. – Ela diminuiu o tom de sua voz. – Podia ter sido diferente, Victor. – Lamentou-se, abaixando o olhar.
O garoto pousou uma das mãos no queixo de Cathy, erguendo o seu rosto até que os seus olhos encarassem os dele
-Pode ser diferente.
-Como assim? Voltaremos a ser melhores amigos inseparáveis? Continuaremos de onde paramos? – Questionou Cathy, ignorante a situação que se desenrolava ali. – Eu fui tola! Perdemos tantos anos de amizade! Não poderemos recuperar certos momentos perdidos.
-Cathy. – Calmo, Victor indagou. – Ou podemos começar uma nova história.
-Não se pode começar uma amizade que já começou. – Cathy tagarelava.
O garoto balançou a cabeça negativamente, abrindo um pequeno sorriso de lado, enquanto pousava seu dedo nos lábios de Cathy, interrompendo que a amiga continuasse a retrucar diferentes hipóteses.
-Pare de falar por um momento. – Victor murmurou, enquanto aproximava-se de Cathy e tocava seus lábios nos da amiga, selando um doce beijo.
Todos os problemas e obstáculos de Cathy foram esquecidos pela mesma naquele momento. Não havia Dylan, filme ou tempo perdido. O momento era aquele.
Eles se separaram e Victor fitou o sorriso sereno que se formava no rosado e belo rosto de Cathy, fazendo-o retribuir.
-Porque eu fui tão ingênua? Tão fraca? – A garota questionou, revirando os olhos, mas sem perder o sorriso terno.
-O destino gosta de nos pregar peças. Ele gosta de nos testar. – Victor pousou a mão no rosto da menina a sua frente, acariciando suas bochechas. – Dylan foi um empecilho, um impasse, um estorvo... – Bufou.
-Entendemos. – Cathy interrompeu, sorrindo.
-É só para deixar claro. – Deu de ombros, tentando demonstrar indiferença.
A menina abaixou o olhar, suspirando.
-Victor, eu tenho medo. – Ela fitou o garoto. – Eu tenho medo que esse sentimento, seja lá qual for que eu nutro por Dylan, volte a me perturbar.
-Eu posso fazer você esquecê-lo. – Victor indagou. – Apenas não pode se privar da vida por causa de um amor que talvez nem exista.
-E se não der certo?
-Não custa tentar. – Victor abriu um sorriso descarado.
A felicidade pode estar mais perto do que imagina, basta olhar ao seu redor. Não volte sua vida para um amor não-correspondido, porque o amor verdadeiro é composto pela união de duas pessoas que se amam.
(Valéria C.)
1 comentários:
Ta liiindo!! Muuuito meesmo!! Eu ameei!!
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